O
Brasil despediu-se dos jogos olímpicos de Londres 2012 com a melhor campanha de
sua história, em quantidade de conquistas: foram 17 medalhas, sendo três ouros,
cinco pratas e nove bronzes, duas conquistas a mais que as melhores campanhas
até então: Atlanta 1996 e Pequim 2008, quando o país subiu 15 vezes ao pódio.
No entanto, se consideradas apenas as conquistas de ouro, o Brasil nunca foi
tão bem como em Atenas 2004, quando obteve cinco ouros.
As
17 medalhas do país em Londres superaram a expectativa do Comitê Olímpico Brasileiro
(COB), que projetava 16 conquistas, mas ficaram aquém do que esperava o Ministério
do Esporte, em especial o ministro Aldo Rebelo, que antes dos jogos aguardava
20 pódios do chamado Time Brasil, o agrupado de representantes brasileiros –
259 inscritos, dos quais 257 competiram.
“A nossa análise
decorria da ideia de que o nosso desempenho em Londres teria a interferência
dos recursos que foram aplicados de Pequim para Londres e teriam resultado, mas
a nossa tarefa é olhar para o futuro. Vamos analisar as nossas deficiências,
não só as do governo, mas a dos demais agentes que participam do esforço, e
olhar com uma perspectiva otimista para o futuro e olhar para o Rio como um
desafio a ser abraçado", comentou Aldo Rebelo, ainda em Londres.
Já Carlos Arthur
Nuzman, presidente do COB, manifestou opinião diferente. “O COB veio para
Londres com uma expectativa realista, que era conquistar um número de medalhas
próximo ao que foi obtido em Pequim. O resultado final foi dentro do esperado e
está de acordo com o planejamento do COB para os Jogos Olímpicos Rio 2016.
Temos o desafio de colocar o Brasil entre os Top Ten e já estamos trabalhando
para isso”, afirmou.
O caminho para
chegar aos 10 mais das olimpíadas
Figurar
entre os dez primeiros colocados no quadro de medalhas em 2016 não será tarefa
fácil para o Time Brasil. Basicamente há duas alternativas, que se mescladas
podem dar certo: deixar de perder finais e aumentar investimentos para ampliar
a quantidade de medalhas conquistadas.
Em
Londres 2012, entre os dez primeiros colocados, a Hungria, que terminou em nono
lugar, conseguiu o mesmo número de medalhas do Brasil, 17, com a diferença de
que deste total oito foram de ouro, já o Brasil teve três medalhas douradas
(Sarah Menezes, judô; Arthur Zanetti, ginástica artística; e seleção feminina
de vôlei). Hipoteticamente, se as cinco medalhas de prata do país virassem
ouro, o Time Brasil chegaria entre os 10 primeiros no quadro.
Mas
essa mudança seria improvável. Das cinco pratas, as dos homens no vôlei,
futebol e vôlei de praia (Alison e Emanuel) foram inesperadas negativamente,
pois o Brasil era favorito nas finais. Se todas fossem conquistadas ou duas
dessas três, o Brasil terminaria os jogos no 15° lugar. Se além dessas, Esquiva
Falcão não tivesse perdido a final do boxe por apenas um ponto, o Brasil chegaria,
hipoteticamente, a sete ouros, ocupando o 12° lugar no quadro de medalhas.
Restaria a alternativa do improvável: que Tiago Pereira, na natação, fosse ouro
nos 400 metros medley, onde a própria conquista da prata foi uma surpresa
positiva; ou que César Cielo confirmasse o favoritismo e ficasse com o ouro ao
invés do bronze nos 50 metros livre.
Aumentar a
quantidade e a diversidade de medalhas
Como
diriam os mais tradicionalistas, o “se não entra em campo”, então o caminho
mais realista é o país trabalhar para ampliar a quantidade de medalhas
conquistadas e, se possível, a diversidade também, pois das 28 modalidades que
o Brasil participou em Londres, apenas em oito trouxe medalhas: judô, vôlei
(indoor e praia), natação, vela, boxe, futebol, pentatlo moderno e ginástica
artística.
De
acordo com o COB, a meta para 2016 é justamente aumentar o número de medalhas
nas modalidades em que o Brasil já tem tradição, conquistar medalhas em
modalidades em que ainda não subiu ao pódio e dar mais atenção às modalidades
individuais, que distribuem mais medalhas. Essa última estratégia foi adotada
em Londres 2012, e deu certo, por quatro países de modo especial: Hungria (9°),
que apostou nas provas de canoagem, Cazaquistão (12°), Irã (17°) e Coréia do
Norte (20°), que se especializaram em ouros no levantamento de peso.
“Vamos investir
mais nos esportes individuais, porém acreditamos que as conquistas de um país
devem acontecer em um número diversificado de modalidades. Além de termos
tradição nos esportes coletivos, que continuarão a ter peso importante no nosso
planejamento, precisamos ampliar o leque de possibilidades e conquistas. Nossos
carros-chefes em 2016 serão o judô e o vôlei, porém é importante desenvolvermos
o esporte com um todo, e não apenas uma ou duas modalidades”, comentou, ainda
em Londres, Marcus Vinícius Freire, superintendente executivo de esportes do
COB.
Apesar de o
comitê comemorar as 17 medalhas em Londres, houve clara preocupação com a
redução da participação do país em finais em olímpicas: em Pequim, o Brasil
esteve em 41 decisões, em Londres, em 36. A relação é óbvia para a maioria das
modalidades: só pode ser medalhista quem é finalista.
Também houve
desagrados com o desempenho da natação (voltou sem ouro) e do taekwondo (só
levou dois atletas e alcançou uma semifinal com Diogo Silva) e com as
decepcionantes representações do atletismo (pela primeira vez, desde Barcelona
1992 ficou sem medalha), basquete feminino (não passou da primeira fase),
futebol feminino (pela primeira vez não chegou às semifinais) e ginástica
artística feminina (pela primeira vez, desde Sydney 2000, fora das finais).
“Vamos nos
reunir com as Confederações e analisar a situação desses esportes. Precisamos
avançar em modalidades que distribuem muitas medalhas, como natação e
atletismo, e recuperar o nível de algumas coletivas, como basquete e futebol
feminino. O desafio para 2016 não será somente do COB, mas de todas as confederações”,
avaliou Marcus Vinícius.
Ampliação de investimentos
Entre o ciclo
olímpico de Pequim 2008 e o de Londres 2012, o COB investiu no desporto de alto
rendimento R$ 101 milhões a mais de verbas obtidas com base na Lei Agnelo Piva
(que repassa ao COB e à Confederação Paralímpica Brasileira 2% da arrecadação
bruta das loterias federais). O Time Brasil recebeu, só aplicar no desporto de
alto rendimento, R$ 230 milhões para Pequim 2008 e R$ 331 milhões para Londres
2012, crescimento de 44%, que resultou apenas em duas medalhas a mais e uma
posição acima da obtida anteriormente. O Brasil saltou de 23° para 22° no
quadro de medalhas.
Em valores
absolutos, e só considerando o repasse de recursos pela lei Agnelo Piva, cada
uma das 15 medalhas brasileiras em Pequim 2008 teve um custo de R$ 15,33
milhões. Em Londres 2012, essa relação custo/medalha foi de R$ 19,47 milhões,
dividindo-se o total repassado pelas 17 medalhas obtidas.
Se
hipoteticamente o planejamento para Londres 2012 fosse feito a partir do custo
de cada medalha em Pequim 2008, o montante de R$ 331 milhões repassado neste
ciclo olímpico deveria resultar em 21 ou 22 medalhas na capital britânica, ou
seja, de seis a sete a mais do que as 15 conquistadas na cidade asiática.
Ainda no plano
de hipóteses, agora com projeções de investimentos para o Rio 2016: se o Brasil
tomar como espelho a Itália, que teve 28 conquistas em Londres, sendo o segundo
país com menor número de medalhas entre os 10 primeiros colocados no ranking
olímpico (o menor entre os top 10, como já citado, foi a Hungria com 17
medalhas) seria preciso que nossos atletas conquistassem 11 medalhas a mais do
que em Londres.
Tendo por base a
relação custo/medalha do país nos jogos na capital brtiânica (R$ 19,47 milhões),
o Brasil precisaria acrescer R$ 214,2 milhões aos R$ 331 milhões que investiu
em Londres com recursos da lei Agnelo Piva, na prática, o montante total
superaria os R$ 545 milhões de repasse durante o ciclo olímpico Rio 2016.
De acordo com o
Ministério do Esporte, o governo vai anunciar nas próximas semanas um plano de
investimento no esporte olímpico, que deverá ampliar o volume de recursos que
foram disponibilizados na preparação para Londres 2012. O objetivo é aumentar o
número de medalhas e fazer o país chegar ao Top 10 olímpico em 2016. O tempo é
curto e o caminho é longo e dispendioso...
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