O GP São Paulo de Atletismo, realizado no último domingo, 22 de maio, na reformada pista do Estádio Ícaro de Castro Melo, na zona sul da capital, foi espetacular: medalhistas de 17 países, 16 medalhas para esportistas brasileiros, 57 entre os 100 melhores atletas do mundo nos campos e pistas, boas revelações brasileiras como Nilson André, bronze nos 100 metros rasos, e Jailme Sales, também bronze nos 400 metros feminino, mas a estrela da competição foi uma só: Maurren Maggi.
É impressionante como essa paulista de São Carlos, aos 34 anos, tem a capacidade de dar a volta por cima na vida e superar os limites do esporte. O voo horizontal de 6,89 metros, que lhe rendeu o ouro no salto em distância no domingo, é a melhor marca da categoria feminina em 2011. O melhor desempenho anterior era da norte-americana Funmi Jimoh, que alcançou 6,88 metros, no começo de maio, em uma competição em Doha, no Qatar, quando Maurren faturou a prata com 6,87 metros.
Mas o que dá a Maurren a manutenção de heroína brasileira não são seus resultados na pista, mas sim como ela supera as adversidades que saem das caixas de areia e interferem em seu cotidiano.
Em 1999, por exemplo, Maurren faturou o ouro no Pan de Winnipeg, cravou a melhor marca da carreira, 7,26 metros, e chegou alçada à condição de favorita ao ouro em Sydney 2000. A medalha olímpica não veio. Na bagagem de Austrália, Maurren trouxe a primeira contusão séria de sua biografia esportiva, mas não lhe faltou determinação para vencê-la.
Recuperou-se e estava pronta para o bi no Pan de Santo Domingo, quando foi flagrada em exame antidoping, que acusou uso de substância proibida, a qual estava contida em uma pomada para cicatrização utilizada pela atleta. Suspensa por dois anos pela Associação Internacional de Atletismo, Maurren não saltou naquele Pan, também esteve de fora das disputas em Atenas 2004. Tudo indicava o fim de uma carreira promissora, mas ela provaria ser possível dar a volta por cima, de novo.
Após casamento conturbado e posterior separação, e o nascimento de sua filha Sofia, Maurren retornou as pistas no início de 2006 e já no Pan do Rio em 2007, voltava a ser a rainha das Américas com a medalha de ouro no salto em distância. Na temporada 2008, evoluiu gradativamente até chegar ao salto de 6,99 metros às vésperas da olimpíada de Pequim.
Faltavam alguns centímetros para o ouro, diziam os especialistas, e esses centímetros a mais, ou o centímetro a mais, veio em 22 de agosto de 2008, no Ninho do Pássaro, em Pequim, quando a brasileira voou para o ouro a 7,04 metros, tornando-se a primeira medalhista de ouro de nosso país em uma competição individual olímpica.
Após a consagração na China, a vida colocaria a determinação de Maurren novamente a prova: o joelho direito começou a prejudicar sua performance e em setembro de 2009 uma artroscopia foi inevitável. Passados 10 meses de recuperação, a campeã olímpica retornou às pistas em São Paulo, mas no primeiro salto, uma fisgada na coxa esquerda voltou a afastá-la das competições em julho de 2010. Seria o fim?
Não. Maurren Maggi ressurgiu de novo, e para ela, essa frase não é pleonasmo. Em 23 de fevereiro, de novo em São Paulo, voltou às caixas de areia para o ouro em 6,32 metros. No começo de maio, como dito, já estava saltando em 6,87, e no último do domingo, cravou a melhor marca do ano, garantiu-se para o Mundial de Atletismo em Daegu, na Coréia do Sul, em agosto, e para o Pan de Guadalaraja, em outubro.
Assim que saiu da caixa de areia, Maurren Maggi, num misto de sensações que as palavras são incapazes de descrever, vibrou com a torcida, com seu fiel técnico Nélio Moura e chorou nos ombros do ortopedista, Moisés Cohen, que a operou do joelho.
Ela comemorou muito a vitória na pista, abraçou a filha Sofia, subiu com a garota no pódio, e afirmou em tom de certeza: “Voltei para ganhar e ninguém me tira mais daqui”. Alguém duvida que nossa campeã olímpica será capaz?