Um dia, faz certo tempo já, na cidade de Lajeado, no Rio Grande do Sul, um adolescente se encanta por uma menina que adorava patinar. Ele, então, começa a dominar as técnicas para se equilibrar sobre os patins. Não conquista a moça, mas ingressa em um esporte tido por muitos como “coisa para menina” e faz desta prática seu passaporte de sucesso.
Outro dia, faz poucos meses, esse adolescente, já moço formado, está com as malas prontas para embarcar para o Pan de Guadalaraja, quando roubam seus equipamentos de patinação. Ele viaja para a competição mesmo assim e volta com o tri-campeonato panamericano da modalidade.
Teimosia e superação. Novamente, no último fim de semana, essas duas palavrinhas estiveram sobre os patins de Marcel Stürmer, que em Brasília, conquistou uma inédita medalha de prata para o Brasil na categoria individual livre do 56° Mundial de Patinação Artística, realizado pela primeira vez no país.
Com a coreografia sobre James Bond (o agente 007), a mesma que lhe valeu o ouro em Guadalaraja, Marcel só foi superado pelo italiano Dario Betti, em Brasília. Aliás, o italiano não fez mais do que a obrigação já que seu país é referência na modalidade e neste mundial os italianos faturaram 39 medalhas, sendo 20 de ouro.
Marcel, sim, fez mais do que devia, embora já se esperasse uma medalha dele, pois em quatro mundiais anteriores o brasileiro faturou bronzes.
Porém, que cobrança por medalhas o Brasil pode fazer sobre um atleta que sofre o preconceito de ser praticante “do esporte pra mocinha”, que pertence a uma modalidade que recebe pouquíssimos investimentos do Comitê Olímpico Brasileiro (a patinação artística não é esporte olímpico) e que o ano que vem, por falta de competições de alto rendimento, seguirá ganhando a vida não como esportista, mas como artista de patinação em atrações no Brasil e no mundo?
De fato, nada temos a cobrar, só a agradecer a Marcel Stürmer, um brasileiro que dignifica a imagem do nosso esporte pelo mundo e que com seu talento influencia o despertar de novos talentos da patinação de norte a sul do Brasil.
Três desses novos talentos também conquistaram medalhas no Mundial de Patinação Artística, disputado no Ginásio Nilson Nelson, em Brasília, entre os dias 13 e 27 de novembro (aliás, que vergonha, o mundial teve que ser interrompido por goteiras e exceto de mosquitos no local): Gustavo Casado, 20 anos, foi prata no combinado sênior de rotinas livres e técnicas; Diego Dores conquistou prata na prova in line júnior, e Carlos Radtke, foi bronze no combinado livre júnior.
Destaques ainda para outros bons desempenhos de atletas brasileiros entre os 1.200 atletas de 40 países que estiveram em Brasília: na categoria livre sênior, César Mota foi o 11°; e na versão feminina da prova, Julia Balthazar alcançou a mesma posição, Juliana Almeida terminou em 18ª e Thatiana Resende foi a 23ª. Na mesma prova na categoria júnior, Thalita Haas, bronze no Pan de Guadalaraja, foi a quarta colocada.
Marcel Stürmer, parabéns! Que temporada fantástica, hein: prata no mundial, e cinco títulos: O Pan de Guadalaraja, o pré pan (em que Gustavo Casado foi o segundo), o Sulamericano, o Interamericano e o Campeonato Brasileiro. Siga nas trilhas da vida, patinando sobre os preconceituosos e faturando mais medalhas para o Brasil.