A cada semana, você confere destaques do esporte que foram ao ar no programa Galera do Esporte, apresentado por Daniel Gomes todo o domingo das 19h às 21h na rádio comunitária Cantareira FM 87,5 e também em www.radiocantareira.org Informações esportivas podem ser enviadas para galeradoesporte@hotmail.com







terça-feira, 29 de novembro de 2011

Superações de Marcel Stürmer sobre os patins

Um dia, faz certo tempo já, na cidade de Lajeado, no Rio Grande do Sul, um adolescente se encanta por uma menina que adorava patinar. Ele, então, começa a dominar as técnicas para se equilibrar sobre os patins. Não conquista a moça, mas ingressa em um esporte tido por muitos como “coisa para menina” e faz desta prática seu passaporte de sucesso.


Outro dia, faz poucos meses, esse adolescente, já moço formado, está com as malas prontas para embarcar para o Pan de Guadalaraja, quando roubam seus equipamentos de patinação. Ele viaja para a competição mesmo assim e volta com o tri-campeonato panamericano da modalidade.



Teimosia e superação. Novamente, no último fim de semana, essas duas palavrinhas estiveram sobre os patins de Marcel Stürmer, que em Brasília, conquistou uma inédita medalha de prata para o Brasil na categoria individual livre do 56° Mundial de Patinação Artística, realizado pela primeira vez no país.


Com a coreografia sobre James Bond (o agente 007), a mesma que lhe valeu o ouro em Guadalaraja, Marcel só foi superado pelo italiano Dario Betti, em Brasília. Aliás, o italiano não fez mais do que a obrigação já que seu país é referência na modalidade e neste mundial os italianos faturaram 39 medalhas, sendo 20 de ouro.


Marcel, sim, fez mais do que devia, embora já se esperasse uma medalha dele, pois em quatro mundiais anteriores o brasileiro faturou bronzes.


Porém, que cobrança por medalhas o Brasil pode fazer sobre um atleta que sofre o preconceito de ser praticante “do esporte pra mocinha”, que pertence a uma modalidade que recebe pouquíssimos investimentos do Comitê Olímpico Brasileiro (a patinação artística não é esporte olímpico) e que o ano que vem, por falta de competições de alto rendimento, seguirá ganhando a vida não como esportista, mas como artista de patinação em atrações no Brasil e no mundo?


De fato, nada temos a cobrar, só a agradecer a Marcel Stürmer, um brasileiro que dignifica a imagem do nosso esporte pelo mundo e que com seu talento influencia o despertar de novos talentos da patinação de norte a sul do Brasil.


Três desses novos talentos também conquistaram medalhas no Mundial de Patinação Artística, disputado no Ginásio Nilson Nelson, em Brasília, entre os dias 13 e 27 de novembro (aliás, que vergonha, o mundial teve que ser interrompido por goteiras e exceto de mosquitos no local): Gustavo Casado, 20 anos, foi prata no combinado sênior de rotinas livres e técnicas; Diego Dores conquistou prata na prova in line júnior, e Carlos Radtke, foi bronze no combinado livre júnior.


Destaques ainda para outros bons desempenhos de atletas brasileiros entre os 1.200 atletas de 40 países que estiveram em Brasília: na categoria livre sênior, César Mota foi o 11°; e na versão feminina da prova, Julia Balthazar alcançou a mesma posição, Juliana Almeida terminou em 18ª e Thatiana Resende foi a 23ª. Na mesma prova na categoria júnior, Thalita Haas, bronze no Pan de Guadalaraja, foi a quarta colocada.


Marcel Stürmer, parabéns! Que temporada fantástica, hein: prata no mundial, e cinco títulos: O Pan de Guadalaraja, o pré pan (em que Gustavo Casado foi o segundo), o Sulamericano, o Interamericano e o Campeonato Brasileiro. Siga nas trilhas da vida, patinando sobre os preconceituosos e faturando mais medalhas para o Brasil.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Superação esportiva e financeira do paradesporto brasileiro

A participação dos brasileiros nos Jogos Parapan-americanos de Guadalaraja, encerrados no domingo, dia 20, foi espetacular. Pela segunda edição seguida, o Brasil liderou o quadro de medalhas. Foram 30 ouros a mais que os Estados Unidos: tivemos 81 medalhas douradas, 61 pratas e 55 bronzes.

Sem dúvida alguma, Daniel Dias foi o fenômeno do Parapan ao conquistar 11 ouros na natação, um terço das 33 medalhas brasileiras douradas nas águas de Guadalaraja.

Somados, nosso paradesportistas quebraram 54 recordes parapan-americanos e dois mundiais, e agora o Brasil já tem 104 vagas asseguradas na paraolimpíada de Londres 2012, em 17 modalidades. A meta do Comitê Paraolímpico Brasileiro (CPB) é superar a quantidade de 188 atletas que representaram nosso país na paraolimpíada de Pequim 2008.

Somente por ter chegado a uma competição internacional como o Parapan, cada esportista brasileiro já pode ser tomado como exemplo de superação e ícone de que a força de vontade, aliada à determinação, sobrepõe-se às limitações físicas.

Mas em Guadalaraja o paradesporto brasileiro deu exemplo mesmo foi de superação financeira, ou melhor, de bom aproveitamento dos poucos recursos que tem, em comparação ao que se disponibiliza ao esporte olímpico.

O cálculo é simples: enquanto em 2010, o CPB teve um orçamento disponível de R$ 30 milhões, o Comitê Olímpico Brasileiro (COB) teve R$ 36,8 milhões somente de superávit de suas contas. Em contrapartida, o esporte olímpico voltou de Guadalaraja com 141 medalhas (48 ouros) e o paradesporto com 56 a mais, além de um “superávit” de 33 pódios dourados.

O interessante é que tanto para o desporto quanto para o paradesporto, a principal fonte de receita é o repasse de 2% da arrecadação bruta das duas loterias federais, através da lei Agnelo Piva. Porém, a legislação não é isonômica com esportistas e paradesportistas, conferindo ao comitê destes 15% dos recursos e ao daqueles 85% do total repassado.

Some-se a isso o fato de que na maioria das confederações o esporte olímpico conta com mais verbas que o paraolímpico e tem-se a magnitude da espetacular participação brasileira em Guadalaraja, na proporção monetária “custo/benefício” por atleta.

Não seria a hora, de rever o percentuais de repasse da lei Agnelo Piva, e mais importante do que isso, que as empresas privadas apoiem o paradesporto, pois “o valor” que se agregará a qualquer marca é significativo? Fica minha provocação...

Para os que ainda têm dúvidas se vale a pena investir no paradesporto brasileiro, nunca é demais lembrar que de 13 modalidades em que o Brasil esteve em ação no Parapan, em 12 teve medalhas e em nove ao menos uma de ouro. Somente os paradesportistas do tiro com arco voltaram sem pódios do México, mas essa situação também foi vivida pelos esportistas que representaram o país no Pan.

Algumas análises peculiares do Brasil no Parapan: na natação foram 85 medalhas conquistadas (33 ouros, 23 pratas e 29 bronzes). Além do fenômeno Daniel Dias, André Brasil também subiu ao lugar mais alto do pódio por seis vezes e novatos como Caio Oliveira, 18 anos, Vanilton Filho, 18, e Talisson Glock, 16, venceram em suas categorias. Após quatro parapans, Clodoaldo Silva competiu pela última vez e deixou o México com quatro medalhas, sendo duas de ouro.

No atletismo, a campeã e recordista mundial Terezinha Guilhermina não decepcionou e venceu os 100, 200 e 400 metros rasos, ajudando na conquista das 27 medalhas douradas da modalidade, do total de 60 pódios do atletismo brasileiro. Destaques ainda para Daniel Silva, que quebrou o recorde parapan-americano nos 400 metros; e para Lucas Prado, que foi ouro nos 100 e 200 metros.

Nos esportes coletivos, o Brasil venceu os Estados Unidos nas finais do gollball masculino (a equipe feminina foi prata) e também no vôlei sentado, chegando ao bi-campeonato. Bi campeão também foi a seleção de futebol de 5, ganhando da Argentina, por 1x0, com um gol de Ricardinho no 2° tempo da prorrogação.

No tênis de mesa, grande desempenho com 12 ouros e 24 medalhas no total, bem como no judô, com dois ouros e quatro pratas, ficando atrás apenas de Cuba na quantidade de conquistas. Favorito, Antônio Tenório, tetracampeão paraolímpico ficou com a prata; e recuperada de uma lesão na medula, Karla Ferreira faturou a medalha de ouro, tornando-se bicampeã parapan-americana.

No tênis em cadeira de rodas, Carlos Jordan e Maurício Pomme, confirmaram favoritismo; no ciclismo de estrada, Soelito Gorh conseguiu dois ouros; no halterofilismo, foram seis medalhas; na bocha foram dois bronzes e um ouro, com Fábio Moraes; e no basquete em cadeira de rodas, a equipe feminina se garantiu para Londres 2012 ao bater as mexicanas na decisão da medalha de bronze.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Brasil no top 8 do tênis de mesa

O tênis de mesa masculino brasileiro alcançou um resultado magistral na sexta-feira, 4 novembro, em Magdeburg, na Alemanha: a equipe formada por Cazuo Matsumoto, Gustavo Tsuboi e Thiago Monteiro chegou, pela primeira vez na história, às quartas de final da Copa do Mundo por equipes.

O feito foi obtido após a vitória por três jogos a dois sobre a Hungria, com atuação decisiva de Matsumoto que venceu suas duas partidas de simples. Thiago e Gustavo venceram o duelo das duplas. Nas quartas de final, o esforçado trio brasileiro não foi páreo para o Japão: perdeu três jogos e venceu um, de novo nas duplas com Thiago e Gustavo.

Apesar do triunfo sobre os brasileiros, os japoneses ficaram pelas semifinais. China e Coréia do Sul, só pra variar, decidiram o título, com vitória chinesa por três jogos a zero, com os brilhantes Ma Long, Xi Xin e Wang Ha.

Detalhe, que certamente não passou desapercebido do leitor, é que o veterano Hugo Hoyama, de 42 anos, não integrou o trio brasileiro. Aliás, isso não é um detalhe é o detalhe: o Brasil figurar entre as oito melhores nações do tênis de mesa mundial sem o nosso multicampeão panamericano (10 ouros), mostra que o trabalho de transição está sendo bem conduzido pela Confederação Brasileira de Tênis de Mesa (CBTM).

Digo que a transição está em execução, pois Hugo Hoyama ainda não “pendurou as raquetes”. Junto ao jovem trio brasileiro, o veterano levou o Brasil, também na sexta-feira, na mesma cidade alemã, ao título da Copa Intercontinental (uma espécie de torneio preparatório da Copa do Mundo), com vitórias sobre os conjuntos da Austrália (3x1), Canadá (3x0) e Egito (3x2).

É bom ver que a semente plantada por Hugo Hoyama e o já falecido Cláudio Kano (vítima de acidente de trânsito em 1996) está dando bons frutos, após quase duas décadas de investimento e seriedade de gestão esportiva.

A propósito, o hábil e inesquecível Cláudio Kano vai virar filme. Os feitos do mesa-tenistas serão retratados em um documentário, patrocinado pela Petrobrás e feito em parceria com o canal ESPN-Brasil. O enredo trás entrevistas com os pais de Cláudio e colegas de raquete e bolinha. Homenagem pra lá de merecida. O documentário ainda não tem data para ser lançado.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Brasil: mais ao ritmo de Solonei do que de Thiago

Dos resultados do Brasil no Pan de Guadalaraja, encerrado no último domingo, 30, que vieram das pistas, campos, piscinas, ruas e quadras, ficou uma dúvida central: já podemos ser considerados uma potência esportiva?

Sinceramente... não! Mas as notícias são boas, pois estamos acertando o caminho. Potências esportivas figuram nos primeiros lugares dos rankings de medalhas, especialmente quando competem fora de seus domínios. Convenhamos: 141 medalhas brasileiras, sendo 48 de ouro, em Guadalaraja, mostraram de fato que o esporte do nosso país já é forte internacionalmente.

Uma potência esportiva também tem ídolos em muitas modalidades e o Brasil contou com muitos deles em Guadalaraja: na natação, com César Cielo e Thiago Pereira (o recordista brasileiro em medalhas de ouro panamericanas, 12), Hugo Hoyama, do tênis de mesa, Tiago Camilo, do judô, Juliana e Larissa, do vôlei de praia, Maurren Maggi, do atletismo, atletas que certamente a maioria das pessoas comuns se encontrasse pelas ruas reconheceria.

Então, o que falta para sermos um “país-potência-esportiva”, então? Alcançar o mesmo número de medalhas que os Estados Unidos em olimpíadas e torneios internacionais. Passar de 100 medalhas de ouro nessas competições? Nada disso...

Em um “país-potência-esportiva”, um campeão como Solonei Rocha, vencedor da maratona no Pan, não é descoberto por acaso (o cara era coletor de lixo no interior de São Paulo), tampouco recebe capacitação técnica de alto rendimento após os 20 anos de idade. Eis um exemplo da nossa falta de planejamento para descobrir talentos.

Uma nação que quer figurar entre as potências do esporte mundial também não pode imaginar que um atleta para adquirir condicionamento físico estabeleça sua dieta alternativa, com o mínimo supervisionamento de um nutricionista.

Fernando Saraiva, 21 anos, ouro no levantamento de peso em Guadalaraja, assim o fez: há quatro anos, intuiu que precisava engordar 30 quilos para mudar de categoria. Resolveu ganhar peso por conta própria e no México faturou o ouro. E que efeito isso terá no futuro do esportista, quando entrar nas idades do “enta”? Ninguém sabe, e nem quer saber, o que vale é o imediato campeão.

Fico só com esses exemplos para sentenciar: nossos atletas são medalhas de ouro em superação; as políticas governamentais imediatas de incentivo ao esporte estão, a muito custo, tentando mirar o pódio, mas o planejamento para estruturar a formação e descoberta de campeões no Brasil segue em ritmo bem tranquilo, calmo demais até, para uma nação que será o centro das atenções esportivas em 2016.